Wednesday, November 28, 2007

Danke schön, Herr Baer...!



Foi uma honra e um prazer singular poder trocar impressões, ainda que electronicamente, com Ralph Baer, criador da primeira consola de jogos e verdadeiro pai da indústria. Passaram-se poucos minutos desde que terminei a tradução das nossas conversas e não posso deixar de me emocionar com o teor das suas palavras e a perspectiva, agora tão real, de que uma vez terminado o artigo acerca da sua vida e trabalho, estas palavras irão figurar no nosso site, a primeira entrevista de um português a esta lenda viva e uma das poucas existentes no âmbito da Internet.

Tratou-se de um processo moroso, ainda assim, que compreendeu a leitura e anotações sobre o seu livro, Videogames in the Beginning, imensas trocas de e-mails com Leonard Herman (primeiro historiador dos jogos de vídeo Norte-Americano) e outros tantos com o próprio Ralph Baer. Nada advém do nada, e o resultado que agora tenho em mãos foi resultado de um processo de cultivo. Só espero que a colheita seja do vosso agrado.

Monday, November 26, 2007

Mundos Esquecidos Parte II - Call of Cthulhu - Dark Corners of the Earth




The most merciful thing in the world, I think, is the inability of the human mind to correlate all its contents. We live on a placid island of ignorance amidst the black seas of infinity; and it was not meant that we should stray far.

H.P. Lovecraft (Call of Cthulhu)


Inspirado por seres mitológicos como o Leviatã ou o Kraken, Cthulhu é um dos mais célebres símbolos ficcionais do temor secular do Homem pelos monstros marítimos. Idealizado por H.P. Lovecraft num conto de 1928, este ser extraterrestre alado pertence ao grupo gos Grandes Antigos, um grupo de criaturas que, no universo ficcional deste escritor, povoaram a terra milhares de anos antes de esta ser habitável para os demais seres vivos.

Várias adaptações da obra deste mestre têm vindo a ser feitas ao longo dos tempos. No caso dos videojogos encontramos SHADOW OF THE COMET e PRISIONER OF ICE, dois jogos de aventura de excelente qualidade criados em 1993 e 95 pela Chaosium e editados pela Infogrames. Aparte destas duas recriações originais, jogos como ALONE IN THE DARK, NECRONOMICON e ETERNAL DARKNESS, entre dezenas de outros títulos, não escondem a grande influência dos escritos do autor norte-americano.

CALL OF CTHULHU: DARK CORNERS OF THE EARTH é um título de PC e XBOX lançado pela Bethesda Softworks e criado pela HeadFirst Productions como primeira parte de uma trilogia cancelada devido aos seus pobres resultados financeiros. Tomando como base não apenas a obra de Lovecraft mas também o RPG de tabuleiro criado por Sandy Petersen e Lynn Willis, o jogo conta uma história sobre o confronto entre um homem e o sobrenatural. Encarnamos a personagem de Jack Walters, um detective que enlouquece e é internado num hospício após uma série de episódios sem explicação. Tudo começa com um raid a uma casa onde se encontra barricado um estranho culto. O jogo prossegue numa investigação em Innsmouth, uma pequena cidade costeira onde Dagon, outra criatura mítica do grupo dos Grandes Antigos, fez um pacto com a população; em troca de peixe e ouro em abundância, sacrifícios humanos teriam de ser feitos. Também as mulheres da localidade eram oferecidas a Dagon para que originassem os seus filhos. A cidade protege em secretismo o culto de Dagon assim como os híbridos. A presença de um estranho investigando um assassinato despoleta a desconfiança dos habitantes que, numa desperada tentativa de manter em segredo as suas práticas, armam uma cilada a Walters. A trama estende-se até aos mais elevados órgãos do governo e, como não poderia deixar de ser, até àquela incógnita e impressionante criatura que é Cthulhu.

Se o início do jogo é uma experiência deliberadamente confusa, pela forma como a história é contada recorrendo a flashbacks e à sobreposição de camadas espaciais e temporais, tudo começa a fazer um terrível sentido a partir do momento em que as palavras "Escape From Innsmouth" se lêem no ecrã. Não existe, simplesmente, nenhum outro jogo onde a palavra sobrevivência tenha um sentido tão verdadeiro. Após a hostilidade com que somos recebidos na pequena localidade, somos acordados a meio da noite por um grupo de habitantes armados que se dirige ao nosso quarto para apressar o nosso encontro com a morte. Esta extensa fase do jogo representa uma noite inteira de evasão e puro medo (!), enquanto corremos e nos agachamos em cada recanto das ruas e becos da povoação. A sua extrema dificuldade inflama o sentido de terror, assim como a respiração nervosa do nosso personagem, o trepidante acompanhamento sonoro e o inovador sistema de sanidade. Em certas ocasiões iremos notar que a imagem perde a focagem precisamente no momento em que olhamos para baixo a partir de um lugar elevado, uma recriação do sentimento de vertigem absolutamente inédita. Falamos de um dos poucos jogos onde a posse de uma arma não implica invulnerabilidade, antes pelo contrário, pode oferecer ao jogador um falso sentido de confiança que se dissipa quando nos apercebemos que um revólver ou uma caçadeira de nada serve contra as dezenas de inimigos que nos perseguem. A melhor forma de iludir o perigo é evitá-lo mantendo a nossa presença por anunciar.

Todo o jogo transpira altos valores de produção e excede largamente a média devido ao impressionante texture mapping que ostenta, em ocasiões as melhores texturas que podem ser vistas na XBOX. Por sua vez, o storytelling e mecânica de jogo foram tão influentes que em poucos anos já se podem falar em derivados, senão vejamos PENUMBRA: OVERTURE ou THE DARKNESS.

DARK CORNERS OF THE EARTH é o paradigma moderno de um fabuloso mundo vídeo lúdico esquecido, ignorado e injustiçado. A forma como expõe a sua impressionante história e o seu magnífico desfecho seriam suficientes para que o jogo fosse digno de menção honrosa. Uma criação como estas implorava não apenas melhor divulgação e apreço crítico mas também um reforço financeiro de forma a que a equipa pudesse levar a cabo o seu projecto na totalidade. No entanto, o resultado foi uma série de culto inacabada, pronta para se juntar ao panteão de sagas assassinadas precocemente pela imperdoável máquina comercial. Mesmo o prémio de "Best Game No One Played" da Edge não foi suficiente para aumentar o interesse público do jogo e salvar o estúdio da falência. Para trás ficam BEYOND THE MOUNTAINS OF MADNESS e DESTINY'S END, meros títulos sobre os quais apenas podemos teorizar.

Saturday, November 24, 2007

Coregamer @ Hype



Já no seu terceiro número, a revista Hype tem sido a promessa da imprensa video-lúdica portuguesa verdadeiramente independente. A qualidade da apresentação só encontra igual na seriedade e cuidado com que os assuntos são tratados. Pela módica quantia de 5€ podemos obter não só uma revista que muitas já chamam de "Edge Portuguesa" assim como um DVD que inclui vídeos, demonstrações, jogos completos e muitas outras secções de interesse para a comunidade de jogadores. Uma publicação mensal que parece estabelecer o perfeito consenso entre o gosto mainstream e a verdadeira cultura de hard core gaming. Isto promete. Todo o projecto encontra-se associado à rede MyGames, o mais recente site de videojogos português, também merecedor de uma visita - porque não?


Este mês, na área de leitores, podem encontrar o nosso pequeno Coregamer em destaque, uma verdadeira honra para mim e para os meus colaboradores. Um pequeno triunfo de cada vez e quem sabe o nosso site não começa a obter um pouco mais de atenção. Estamos mais fortes que nunca e, no decorrer do mês de Dezembro, espero ter mais umas poucas entrevistas preparadas e outros artigos que espero ser do interesse dos mais dedicados. Mas, qual presente natalício, só irei desembrulhar na devida altura.


Mais uma vez obrigado a todos os que têm visitado e deixado feedback.

Wednesday, November 21, 2007

Sommet International du jeu de Montréal 2007



A bela cidade de Montréal vai promover pela quarta vez o Sommet International du Jeu (International Games Summit) nos dias 27 e 28 deste mês de Novembro. O programa inclui alguns dos mais importantes nomes da indústria actual e de outros tempos, como é o caso de Koizumi Yoshiaki, criador do novíssimo Super Mario Galaxy, David Perry, o veterano criador de Earthworm Jim e MDK, Chris Hecker, participante do novo projecto de Will Wright, Spore, assim como Kellee Santiago e Jenova Chen, criadores de Cloud, flOw e Flower.

Podem sonhar e visitar o website para ver o programa completo.



Tuesday, November 13, 2007

Prazer de ler



Nem sempre fui muito dado à leitura durante a minha infância, talvez porque passasse demasiado tempo a ver televisão ou a jogar enquanto criança fascinada pela tecnologia. Trata-se de uma situação comum à minha geração, um resultado directo da existência de tantas outras distracções rápidas e mais acessíveis: de que podia, afinal, um formato vetusto como o Livro contra as luzes, cores, formas e animações do ecrã de um Computador?

Ainda que não tenha qualquer dúvida que os jogos de vídeo são a minha principal área de interesse, a qual tenho defendido e apoiado sempre, é curioso constatar que nos últimos meses encontrei forma de os conciliar com a leitura, prazer que eventualmente descobri ao meu próprio ritmo. Existe todo um universo de publicações sérias e indispensáveis sobre o tema que, por falta de traduções e edições no nosso país, apenas conseguem ser encontradas no mercado inglês e norte-americano - ou até no mercado francês e, obviamente, japonês.

Se, inicialmente, eram os jogos de vídeo e a informática que me distraíam da generosa colecção de livros que tinha em casa, agora encontro um balanço perfeito entre ambas as actividades, ao mesmo tempo que descubro um novo manancial de informações que de outra forma seriam inacessíveis. Por essa razão decidi partilhar as minhas experiências com alguns dos livros que já li e que se encontram na secção BEYOND do Coregamers, uma zona que pretendo expandir no futuro até criar um guia compreensivo dos livros de referência sobre o tema.

Hoje mesmo recolhi (mais) duas relíquias numa banca de livros de um supermercado: 'Como Vencer No Nintendo', um livro com soluções e cheats de jogos NES e um 'Aventuras Com O Atari', um livro inteiramente dedicado aos jogos de aventura dos sistemas Atari. Dois sólidos testemunhos, surpreendentemente traduzidos para português, de uma excelente época de videogaming.

Friday, November 9, 2007

Boiling Point

Serei eu a única pessoa à face da terra que já não consegue suportar o sufoco do mercado vídeo lúdico dos dias de hoje? Todos os dias abro caixas de novos lançamentos, desejoso de que as previsões feitas em dezenas de websites e revistas tenham sido um enorme equívoco e que, afinal, os jogadores estão interessados em produtos novos e originais. La grande illusion: só vejo FPS.

Call of Duty 4, Timeshift, Halo 3, Bioshock, Medal of Honor Airborne, Half Life Orange Box, já para não mencionar as recargas de Counter Strike Anthology e Source. É tradição no PC, sim. Pela variedade fenomenal que as consolas têm vindo a oferecer ao longo dos tempos, muitos como eu têm encontrado um porto de abrigo enquanto continuam a investir, económica e intelectualmente, nesta jovem indústria. Mas fere-me a vista olhar para o escasso catálogo de jogos da XBOX 360 e ter de me esforçar tanto para encontrar uns poucos títulos que não se enquadram no género FPS, Desporto ou Condução. Ao que é que nós chegámos?

Ver a Playstation 2 a abandonar sorrateiramente o mercado também evoca um sentimento de tristeza inconsolável. Foi a consola de maior sucesso comercial de sempre e agora, quase fechadas as contas, podemos afirmar que foram poucos os títulos exclusivos deste género pelos quais a consola se destacou ou reclamou grandes lucros. Com a excepção de Killzone, mais um objecto de debate do que um êxito comercial, apenas encontramos jogos multi-plataforma - sublinho Black ou TimeSplitters.

É toda uma questão muito complexa e diversificada, talvez merecedora de maior atenção num futuro próximo. A saturação, essa, pode ser irreversível. Tento compensar esta exagerada manobra rumo à popularização dos jogos com pequenas, mas sinceras, investidas, como as que podem encontrar no maravilhoso universo de Ferry Halim - ORISINAL.

Sunday, November 4, 2007

There and back again

Creio ter terminado, finalmente, o meu artigo sobre a Atari VCS. Tentei colocar o máximo possível de imagens de jogos, modelos da consola, mas sobretudo a informação mais rigorosa e verificada várias vezes, de forma a não cair no erro. Foi um prazer trocar impressões com Rob Fulop, entrevistado, um dos mais importantes criadores de jogos da época. Procurei contactar David Crane ou outro qualquer membro de relevo da Activision, mas por falta de tempo e sorte não consegui chegar a eles. Quem sabe daqui a cinco anos, num próximo aniversário significante da consola?

Aproveito também para dar as boas vindas ao novo colaborador, Emit Flesti, que se estreou no site com um belíssimo texto sobre WE LOVE KATAMARI e que promete escrever muito mais sobre os jogos relevantes da sua vida. Os meus agradecimentos sentidos por ter dispensado o seu tempo para o nosso pequeno projecto. Visitem o seu blog para lerem uma série de excelentes textos reflexivos.

Já me encontro em contacto com outro nome sonante da criação dos jogos de vídeo actuais, nomeadamente Kellee Santiago, co-fundadora, em conjunto com Jenova Chen, do estúdio da Thatgamecompany, conhecidos no mercado por jogos como CLOUD e FLOW. Espero poder trazer informações importantes sobre o seu novo projecto, FLOWER, que muita curiosidade tem despertado por aí. Simultaneamente, sinto que estamos a chegar até aos designers mais independentes e também a algumas velhas glórias, o que não pode ser interpretado de outra forma que não (muito) positiva.

Acho curioso que quer Eric Quakenbush (entrevistado há cerca de 3 meses), quer Rob Fulop, tenham mencionado o jogo online BLOXORZ como referência pessoal de excelência na criação de jogos dos dias de hoje. De facto, é um grande jogo.

Thursday, November 1, 2007

À conversa com Tracy Fullerton



Troquei impressões com Tracy Fullerton, a criadora de THE NIGHT JOURNEY, um título independente desenvolvido pela USC, ainda sem plataforma de lançamento. Ao que parece, a chegada do jogo à Playstation 3 não passava de uma ilação, baseada no control pad que aparece no início do vídeo. Este e muitos outros esclarecimentos podem ser lidos no site.