É imensurável o valor subjectivo que concedo a um jogo como PANZER DRAGOON, presentemente uma das memórias mais preciosas da minha jornada pelo percurso dos videojogos. O meu primeiro e remoto contacto com este jogo surge numa época em que a imprensa portuguesa da marca SEGA ainda subsiste através da revista Mega Force, onde num dossier sobre o futuro triunfo tecnológico da empresa de Öta é descrito nas palavras 'Saturn, A Nova Revolução'.
Incertos do que aquele sistema iria proporcionar aos utilizadores, os redactores providenciam dados técnicos sobre a consola enquanto se inclinam sobre os jogos prementes do catálogo inicial: entre fotos de VIRTUA FIGHTER, DAYTONA USA (ambos aqui apresentados na versão original de salão recreativo e não na versão Saturn) e um inédito VICTORY GOAL, aparece a enigmática foto no topo de uma caixa de texto, revelando um dragão voador num cenário exótico. O nome desse projecto e a sua natureza são omitidos, como que uma deliberada tentativa de despertar o interesse e adensar o mistério em redor desta imagem.
Só cerca de um ano mais tarde, naquela que foi a minha publicação mensal de referência no mundo dos videojogos da era 16 e 32-Bit, a Super Juegos, encontrei num artigo de final de revista uma nova menção ao projecto. Na secção Game Master, The Elf redige algumas linhas absolutamente atónito, maravilhado pela estética do jogo, assim como a sua complexidade técnica que, na altura, desafiava tudo o que se conhecia no formato home entertainment.
Um aspecto importante no triunfo técnico e artístico do jogo dirigido por Yujio Futatsugi foi o forte fundo temático, cujas origens remetem à banda desenhada do francês Jean Giraud, ou Moebius, no seu renovador comic ARZACH. O desenhista colaborou, inclusivamente, com a equipa da SEGA na produção de alguma arte conceptual que, juntamente com as ilustrações de Ryuichiro Kutsuzawa, providenciaram fortes indícios para a criação deste universo de língua autónoma, suficientemente complexo e fascinante para gerar mais três episódios de sublime reputação.
A obra-maestra da Team Andromeda consistiu o meu primeiro ensaio em mundos tridimensionais complexos, aqueles que não só impressionaram pela profundidade de campo intrínseca às três dimensões visuais - por oposição ao vulgar 2D -, mas também pelo esplendor estilístico dos modelos poligonais e das texturas que os ornamentavam. Foi a minha iniciação num universo tridimensional de conteúdos visuais relevantes, muito além do experimentalismo de outras obras também revolucionárias por mérito próprio, mesmo que privadas deste nível de requinte: PANZER DRAGOON uniu o conceito de storytelling, com sequências CGI e Full Motion Animation, e a jogabilidade nivelada segundo os moldes do popular género arcade que a empresa nipónica criou em meados de 80.