Friday, February 6, 2009

Under the influence



A partir de 1975, a Atari viveu um momento de prosperidade derivado do sucesso de vendas da versão caseira do jogo PONG, conhecido por HOME PONG ou Sears Tele-Games, já depois do contrato milionário entre a empresa Californiana e a cadeia de lojas que abrangia todo o continente Norte-Americano. Robert Brown, um dos iniciadores desta primeira consola de jogos doméstica da Atari, pertencia ao departamento de R&D onde a sua função se centrava na criação de novas tecnologias que pudessem ser transformadas pela empresa em produtos comercializáveis. Em 1976 Bob produz uma das suas invenções mais visionárias que viria a receber o nome de Atari Video Music.

Baseado num sistema analógico numa época de transição para a utilização de micro componentes digitais no domínio do home entertainment, o processador de efeitos visuais de Robert Brown tentou unir som com imagem gerada em tempo real. Conectando o dispositivo a uma comum aparelhagem, o utilizador poderia desfrutar de uma série de imagens projectadas no ecrã da televisão, um exercício precursor dos actuais plug-ins vulgarmente incluídos em qualquer software de reprodução musical. Lançado ainda antes da Atari VCS, a AVM produzia complexas manifestações gráficas (ver vídeo demonstrativo), fruindo não apenas de uma larga gama de cores, mas também de uma rapidez impensável no processamento de formas geométricas cujos efeitos estariam dependentes da música utilizada - um sistema sinestético que fazia a sua própria interpretação da música traduzida em imagens abstractas. Alguns ajustes eram possíveis, como demonstrados nesta digitalização do manual de instruções (via Atari Museum).


Segundo Scott Cohen no seu livro
Zap: The Rise and Fall of Atari, quando o protótipo do Video Music foi revelado, alguns dos responsáveis da Sears perguntaram a Nolan Bushnell o que é que os trabalhadores da Atari andavam a fumar: diz a lenda que Bob Brown apareceu na sala nesse preciso momento com um charro aceso. Um dos elementos-chave do processo de comercialização passou pela apresentação do produto cujo design se encontrava em consonância com o estilo dominante em sistemas áudio da época: painel cromado com reguladores e botões, reforçados com acabamentos em madeira. Ainda assim, a sua permanência no mercado não excedeu o primeiro ano, sendo hoje um produto raro e de valor comercial elevado.

O processamento de imagens em função da escolha musical do utilizador permeou áreas tão diversificadas como a música, televisão e video art - um aproveitamento ao qual a indústria dos jogos de vídeo também não foi alheia. Um exemplo deliberado encontra-se na obra de Jeff Minter, esse falso profeta dos jogos de vídeo cuja obra subsiste de duas influências maiores: TEMPEST, de David Theurer; e os efeitos visuais psicadélicos que este mecanismo instaurou. Observando atentamente os comportamentos do sistema Virtual Light Machine, independentemente da versão deste programa e da sua inclusão em diferentes jogos de vídeo da Llamasoft, torna-se claro o nível da influência que o delírio de Brown produziu sobre Minter – sendo o último frequentemente citado como o introdutor da era do visual plugin.


Ironicamente, este objecto obscuro da geração dos anos 70 recorda o quão fina é a linha entre o revolucionário e o redundante. Como tantas outras criações incompreendidas do seu tempo, produz um interessante testemunho de como a evolução dos tempos origina novas predisposições e extingue, lentamente, os preconceitos. A sua relevância actual, para além do objecto de culto da defunta Atari de Bushnell, adiciona mais uma entrada na categoria de ideias falhadas que viriam a angariar a atenção e sincera admiração de um grande público décadas mais tarde.


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