Não muito distante da indústria cinematográfica ou musical, a comercialização dos jogos de vídeo não prescinde da sua natureza como objecto de venda ao público: apesar das alternativas cada vez mais viáveis, segue sendo uma prática comum a distribuição dos jogos em formato físico, seja em cartucho ou disco compacto, assim como a sua inclusão numa embalagem condizente. Desde os tempos mais remotos deste novo meio que o apelo de um jogo, do ponto de vista do jogador que faz a triagem entre diversas opções ao seu dispor, se encontra em boa parte dependente da escolha visual utilizada na sua apresentação: neste contexto, a capa de um determinado título pode veicular uma imagem tão ilustrativa e poderosa ao ponto de condicionar a escolha do consumidor, inclusivamente o mais informado.
Durante décadas, diferentes estilos foram utilizados e reciclados de forma a produzir noções visuais com as quais os jogadores criassem associações: determinadas fontes de letra remetem de imediato a um título específico ou personagem que o protagoniza; as combinações de cores emitem mensagens simbólicas de absorção imediata, transmitindo uma série de ideias prévias sobre o jogo que a ilustração ou montagem envolve; a escolha dos títulos, descrições ou mesmo dos louvores recebidos por um jogo são aspectos essenciais ao processo de criação e comercialização dos jogos de vídeo enquanto produtos.
Se o design da imagem de capa de um determinado jogo deveria continuar a ser um estágio vital da cadeia de marketing, o estado actual do sector, conformado com a sua própria mediocridade, em muito se deve ao surgimento e proliferação de canais de divulgação online - a facilidade de acesso a diversos aspectos técnicos e descritivos precede frequentemente a aquisição de videojogos na actualidade. Torna-se quase dispensável a função outrora essencial de impressionar o público com uma imagem frontal distinta propondo, por vezes, um exagero da verdadeira experiência de jogo.
Associando os jogos de vídeo com um formato de publicações familiar ao género da literatura, Olly Moss, um jovem designer britânico, iniciou uma série de capas de jogos alternativas que, através de uma expressão plástica de mensagem simples, oscilam entre o seu pendor humorista e a imprevisibilidade da sua execução, adornada com referências gráficas ao trabalho do mestre Saul Bass. Partindo da feição austera das velhas publicações Penguin Classics, concebida por Phil Baines, Moss tenta capturar os elementos imagéticos ou sensoriais mais comummente associados a cada um dos exemplos que elege como base de trabalho, tratando-os mediante uma estética que precede em várias décadas a própria tecnologia dos jogos de vídeo. A raiz do fascínio das suas composições localiza-se de forma precisa no anacronismo dos recursos estilísticos, díspares e inesperados, contudo inteligentes e de uma elegância contagiante.
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