Thursday, July 19, 2007

O ilustre Miyahon-San

Nos tempos da Atari, a política era muito clara: fazer do jogo a super-estrela, em oposição ao engenheiro que o criou. Eram anos 70 e os jogos procuravam afirmar-se no mercado não havendo, simplesmente, espaço para tornar cada engenheiro e cada criativo numa celebridade, fenómeno que algumas estrelas dos videojogos procuram hoje. No cinema temos os actores, na música os cantores... confere-se a importância ao lado humano, aquele que pode ou não depender do respeito e admiração dos outros.

Na coregaming lutamos para dar a conhecer os responsáveis dos jogos, os seus talentos e funções, as suas obras e projectos. Não concordamos com o estatuto de celebridade auto-proclamado e, se de facto existem vedetas dos videojogos, é de concordar que o são por mérito próprio.

Shigeru Miyamoto, o mais respeitado do seu ramo, nem sempre foi o homem atarefado e requisitado dos dias de hoje. Tempos houve em que até ele mostrava aversão aos computadores e electrónica. Mas as suas criações na Nintendo foram memoráveis e Hiroshi Yamauchi cedo se apercebeu do talento dele e da sua equipa. O receio de tornar os seus prodígios em vedetas está testemunhado de uma forma fantástica nos créditos dos primeiros grandes jogos de Miyamoto, onde o seu nome era encoberto e transformado num inteligente S. Miyahon. Acredita-se que a razão principal para esta mudança era o receio de que alguma outra empresa quisesse raptar algum dos seus cérebros.

Tal é o exemplo de Zeruda No Densetsu (THE LEGEND OF ZELDA).




Em japonês, Shigeru Miyamoto escreve-se (em kanji) da seguinte forma: 宮本 茂. O caracter para MOTO também pode ser lido como HON, daí a mudança para Miyahon, que tornava quase impossível qualquer associação. Ten Ten corresponde a Takashi Tezuka e Konchan a Koji Kondo.

A saga das alcunhas continua em
Zelda II: Riinku no Bouken (ZELDA II: THE ADVENTURE OF LINK). Desta vez, até a inicial S - de Shigeru - foi omitida e Miyamoto é reduzido a um ainda menos elucidativo Miyahon. Por esta altura, Mario, Link e Donkey Kong eram vedetas de televisão, verdadeiros ícones da cultura popular japonesa e mundial. Seria até possível que uma família vizinha de Miyamoto fosse fã dos seus jogos e ignorasse que o seu ídolo vivesse dois andares acima.



Hoje em dia seria impensável que tal acontecesse. É certo que alguns artistas preferem mascarar-se por detrás de alcunhas que eles próprios escolhem. Porém, este caso parece ser mais uma questão de imposição - nomeadamente de Yamauchi, o único elemento a poder mostrar uma face associada a um nome na empresa de Kyoto. A brincadeira parece ter terminado a partir da geração 16-Bit, onde o nome de Miyamoto brilhava na sua íntegra quer em SUPER MARIO WORLD (título americano), quer em THE LEGEND OF ZELDA: LINK TO THE PAST.

3 comments:

Anonymous said...

Não se sabe a razão para tal ter acontecido. Reza a lenda que era uma alcunha de Shigeru Miyamoto. Uma tese plausível, visto Miyamoto ter inúmeras alcunhas devido as suas técnicas de trabalho. Técnicas apelidadas "Chabudaigaeshi" que significa "virar a mesa do chá", uma alusão a um clássico japonês. A analogia é feita porque Miyamoto tem tendência a virar um projecto as avessas nos últimos instantes de produção. Outra tese aponta para um erro de tradução.

A verdade é que não se sabe porque aconteceu. Quer seja para preservar o génio criativo, quer seja para pôr em primeiro plano o nome Yamauchi, nome representativo da marca desde a fundação da empresa, Miyamoto alcançou o sucesso e o reconhecimento na mesma.

A verdade é que essa última tese é bem plausível. Até então a marca Nintendo sempre tinha sido associada ao nome Yamauchi, o apelido do fundador da marca, Fusajiro Yamauchi. A verdade é que a Nintendo construtora de consolas é associada a Miyamoto. Muitos pensavam inclusive nos anos 90 que ele era o presidente. O nome Yamauchi esvaneceu-se com a história antiga da Nintendo. Ninguém recorda o apelido que criou este magnífica empresa e poucos recordam a actividade passada da marca. Para o comum dos mortais, a Nintendo resume a Miyamto e videojogos. No entanto, é bem mais do que isso.

Dieubussy said...

A meu ver, como disse no post, tratava-se de uma forma de ocultar os nomes dos criativos. Não sei se era Yamauchi que se queria afirmar ou simplesmente proteger-se.

Há uma diferença entre escolher uma alcunha livremente e ser conhecido por essa alcunha (Yak = Jeff Minters, Lord British = Richard Garriot, etc.) e a tentativa de uma empresa preservar os seus pólos criativos. Eu defendo que tenha sido uma opção de consciência com vista a não celebrizar os responsáveis pelo jogo - Miyamoto não era omnipotente naquel altura.

Anonymous said...

O melhor era perguntar ao Shigeru Miyamoto em pessoa.

Quem me dera...