Monday, October 8, 2007

Onironauta: de Randolph Hearst à Capsule Computer




Os sonhos fascinam o Homem e são incontáveis as obras de arte que têm feito elogios ao seu poder. Leonardo Da Vinci baseou muitas das suas obras em imagens que recorda dos seus sonhos. Os surrealistas pertenciam a uma corrente que expunha os conteúdos do inconsciente. E, no geral, quanta arte não haverá por aí - talvez desde sempre - baseada em imagens, sons e conceitos sonhados?

Winsor McKay ficou conhecido pelos seus trabalhos no mundo do desenho, ilustração, banda-desenhada e animação. Alguns dizem que inspirou o género de desenho com que Walt Disney se celebrizou. Nas últimas páginas do jornal New York Herald publicava uma das suas tiras mais importantes chamada Little Nemo in Slumberland, corria o ano de 1905.

Nemo é um menino com a incomum capacidade de estar vigilante durante o sono. As suas noites são passadas nas terras de Slumberland para as quais é levado por diferentes personagens ou guias (semelhanças com Lewis Carrol à vista). Todos os episódios terminam com Nemo a ser retirado deste mundo onírico, acordando abruptamente, muitas vezes depois de ter sido magoado ou morto no mundo imaginário. Os pais, representantes da dura realidade dos adultos, dividem-se nas suas reacções: ora repreendendo-o, ora acarinhando-o. Apesar da premissa colorida e alegre, McKay compõe as suas histórias de forma adulta, por vezes cruel e sombria, aspecto que confundiu o público em relação ao verdadeiro alvo do seu trabalho. Eventualmente, a tira de banda-desenhada caiu no esquecimento do grande público para apenas ser redescoberta muitos anos depois.




Em 1990 a Capcom (também) recuperou este universo colorido na sua íntegra e replicou os elementos principais das tiras de McKay num jogo intitulado LITTLE NEMO: THE DREAM MASTER para a NES. Cada nível iniciava-se com um sonho num local diferente e como nos desenhos originais o herói podia-se transformar em diferentes criaturas. Perto de ser um jogo esquecido, THE DREAM MASTER fica para a história como um dos poucos jogos de plataformas da NES que permitia, para além da exploração habitual a pé, nadar e mesmo voar pelos cenários.

Todavia, uma questão permanece: qual a razão que levou uma companhia japonesa a editar um jogo no Japão (título original PIJAMA HIRÖ NEMO) sobre uma obra de ficção norte-americana de inícios do século? Para tornar este projecto ainda mais insólito devemos juntar à equação o facto de que foi Tokuro Fujiwara o eleito para liderar o projecto, um nome por esta altura já conhecido pelo seu trabalho de desenho e direcção em títulos como GHOULS'N'GHOSTS e a saga MEGAMAN.

Mais recentemente, Fujiwara deixou a Capcom e fundou o seu próprio estúdio, a Whoopee Camp, onde criou ORE! TOMBA (TOMBI na Europa), um jogo de plataformas da Playstation com mais do que circunstanciais semelhanças com THE DREAM MASTER, desde o gameplay até à própria forma como ambos os heróis permanecem no ar depois de saltar. E ainda há quem diga que os videojogos não possuem história?



1 comment:

Dieubussy said...

Uma pequena adenda ao meu post: descobri recentemente que a ideia do jogo (1990) foi originada por um filme de Masami Hata do ano anterior com o título Little Nemo: Adventures in Slumberland. Resolve-se assim o mistério em redor da razão pela qual a CAPCOM tinha pegado num comic tão obscuro para fazer um jogo.

Foi bom enquanto durou.