Thursday, January 3, 2008

De "Jordisavant "à estação MIR: À la recherche d'une enfance (jamais) perdu


Para quem cresceu numa pequena vila como eu onde a única biblioteca que existia era itinerária (Calouste Gulbenkian), onde o cinema tinha sessões esporádicas e onde não existia nenhuma loja especializada em música ou jogos de vídeo, é caso para dizer que qualquer pequeno objecto tecnológico despertava o meu interesse.

Já bem depois de ter conhecido o ZX Spectrum, tive um amigo durante a escola preparatória com quem trocava jogos de Master System e Game Gear. Sendo natural de França, esse meu amigo possuía uma série de brinquedos e aparelhos que nunca tinha visto à venda em Portugal, mesmo quando me deslocava às grandes cidades. ORDISAVANT, da YEN, é um desses mitos electrónicos dos inícios dos anos 90 com o qual passei horas e horas de puro divertimento.




Durante muitos anos apenas dispunha de uma televisão em minha casa, portanto o meu tempo para poder jogar consola era relativamente limitado, dado a grande qualidade da grelha de programação da RTP1 e RTP2, e até possivelmente as emissões de abertura da SIC, também conhecido nesta altura como "o terceiro canal" ou simplesmente "a três". Mesmo depois de uma segunda televisão ter entrado em minha casa, as emissões públicas continuavam a dominar a maior parte da sua utilização, daí que procurasse refúgio nas consolas portáteis. Quando este ORDISAVANT me foi emprestado, não pensei utilizá-lo por mais do que umas horas até me fartar. Mal sabia eu do mundo de possibilidades que este pequeno aparelho me iria dar.

Nada me conseguiu distrair, durante semanas, da sensação única do teclado de toque mecânico deste pequeno e portátil computador. A única limitação que este tinha, já na altura, era o facto de possuir um ecrã LCD reduzido e restrito a apenas uma linha de escrita. No entanto, é surpreendente recordar o número de jogos e actividades que permitia.

Juntamente com o pequeno computador vinha um manual de instruções extremamente bem esquematizado - muito superior ao que tinha visto até então para o Spectrum - e que ensinava como utilizar o aparelho, assim como umas noções introdutórias à linguagem BASIC. Ainda que nunca tenha voado acima de um certo limite, devo a esse manual a maioria dos meus conhecimentos básicos sobre linguagens de programação, o seu funcionamento e a lógica dos sistemas informáticos.

Juntamente com a parte de programação, o computador da YEN, ao qual eu chamei, carinhosamente, Jordisavant, como homenagem a essa estrela cadente da música francesa, também vinha equipado de uma ferramenta musical generosa e divertida. É certo que por essa altura já tinha explorado, ou aliás esgotado quase todas as possibilidades de um dos outros objectos da minha infância, o YAMAHA PortaSound PSS-140.




Este sintetizador não só vinha equipado com uma gama de 100 instrumentos diferentes como um drumpad que muito emocionava os meus amigos e familiares pela facilidade com que se tocava. A qualidade de som também era superior à de muitos outros sintetizadores de maior porte e custo, senão porque razão teriam os cosmonautas russos levado este equipamento para a estação espacial MIR como passatempo?


1 comment:

Carlos de Figueiredo said...

Que saudades do velhinho Ordisavant e do Yamaha. Infelizmente as crianças de hoje em dia, inundadas de gadgets tecnológicos desde a nascença, não conseguem apreciar e dar o devido valor a pequenas preciosidades como estas. Pobres almas...